sexta-feira, 25 de janeiro de 2008


SOS Guandu: um debate
por Rildo Ferreira


O pedido de socorro para o velho Guandu, importante rio do Estado do Rio de Janeiro, se dá a partir de toda uma discussão que tem origem no norte das Minas Gerais, qual seja, a nascente do Rio São Francisco. E como foi que chegamos ao rio Guandu já que o rio São Francisco nascendo no norte das Minas Gerais segue para o mar cortando vários Estados do nordeste sem, ao menos, banhar o Estado do Rio de Janeiro e sem qualquer ligação com o rio Guandu?

Ora, o rio São Francisco está sendo objeto de muita discussão desde que o governo federal apresentou uma proposta de fazer transposição de 1,4% das águas do velho Chico para amenizar o sofrimento de milhares de sertanejos que sofrem com longos períodos de seca todos os anos. O padre baiano dom Luiz Flávio Cappio resolveu jogar por baixo e fez, por duas vezes, greve de fome para impedir que as obras do projeto começassem. Artistas famosos e outras personalidades alistaram-se ao movimento e a discussão foi parar no Congresso Nacional.

Pois bem, os debates se sucederam com acusações e defesas. Os que queriam a paralisação do projeto usaram como argumentos que a água transpositada serviria para empresas de agricultura que se instalariam no sertão nordestino e pouca, muito pouca água, chegaria às casas dos sertanejos; que a retirada da água do velho Chico prejudicaria as populações ribeirinhas que se beneficiam do rio com a pesca. O padre foi tão enfático na sua defesa que fez uma primeira greve de fome de 11 dias e só abortou o protesto quando o governo aceitou conversar um pouco mais sobre o projeto. Entre seus argumentos diz: “Não temos a pretensão de ter respostas acabadas, mas queremos apontar caminhos. O que vai acabar definitivamente com o sofrimento do povo sertanejo e com a usura da indústria da seca é a convivência com o semi-árido. Muitas iniciativas já existem e as ações da Articulação do Semi-Árido são exemplos vivos de que é possível viver com dignidade no nordeste” (ConsciênciaNet/2005).

Quando o governo reiniciou as obras, e usou em sua defesa o argumento de “garantia de água para o desenvolvimento sócio-econômico dos estados mais vulneráveis às secas ( Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco). Neste sentido, ao mesmo tempo em que garante o abastecimento por longo prazo de grandes centros urbanos da região (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João Pessoa) e de centenas de pequenas e médias cidades inseridas no Semi-árido, o projeto beneficia áreas do interior do Nordeste com razoável potencial econômico, estratégicas no âmbito de uma política de desconcentração do desenvolvimento, polarizado até hoje, quase exclusivamente, pelas capitais dos estados” (integração/2005[r&f1] ), o padre voltou a sua greve de fome de, agora, por mais 24 dias, abortada depois ser internado no Hospital Memorial de Petrolina (Pe) que o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou liminar e representação que determinavam a suspensão das obras de transposição. Por conta disso, o governo pretende anunciar ainda hoje a licitação para início das obras de transposição.

Num outro artigo no qual intitulei O Chico Zona Sul e o Velho Guandu, eu enfoco o caráter oportunista do deputado Chico Alencar (PSOL/RJ) que sempre se beneficiou das águas do velho Guandu sem, no entanto, fazer o alarido que fez em benefício do rio São Francisco, ainda que o rio Guandu esteja sofrendo brutal violação da sua natureza graças à ação do homem que o polui grandemente sua água, esta que sempre serviu para saciar a sede dos cariocas, e que está, segundo o diretor presidente da Agência Nacional de Águas Joerson Kelman, tão poluído que o tratamento para torná-la bebível será, num futuro próximo, praticamente impossível. O rio Guandu recebe água bombeada do rio Paraíba do Sul segundo Kelman (ambientebrasil/2007). Eis a nossa preocupação e motivo desse blog.

As condições do rio, a questão do uso racional de água tratada, propostas alternativas para projetos sustentáveis de águas da chuva, as enchentes nas cidades entre outros assuntos são motivos de debate neste blog. Sua participação é fundamental e o seu comentário será publicado como artigo, por isso, solicitamos aos que assim desejarem que deixem nome completo, atividade profissional que exerce e o nome da cidade onde vive.

[r&f1]Portal do Ministério da Integração Nacional responsável pelo desenrolar do projeto de integração do Rio São Francisco com as bacias hidrográficas do nordeste setentrional.

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